Fim do comércio de pele de jumentos no Brasil

Em 2018, o Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia previu que os jumentos seriam extintos no Brasil. Isso significaria não apenas a perda de um animal culturalmente significativo, mas também violaria a lei federal, que proíbe atividades que levem à extinção de uma espécie.

O que é o comércio de pele de jumentos?

O rebanho de jumentos do Brasil é um dos muitos visados por um comércio global oportunista e extrativista de peles de jumentos, utilizadas para a produção do medicamento tradicional chinês ejiao. O comércio global fez com que algumas populações locais de jumentos despencassem, colocando uma pressão implacável sobre rebanhos nacionais em muitos países. A população de jumentos no Brasil está em declínio acentuado, reduzindo de 974.688 em 2011 para 376.874 em 2017

Redução da população de jumentos entre 2007 e 2017 no Brasil.

Qual é o papel dos jumentos no sul global?

Os jumentos têm um papel único e indispensável na vida de milhões de pessoas em todo o Sul Global. Eles permitem que as famílias acessem água, transportem mercadorias e ganhem uma renda. Para muitas famílias na África, Ásia e nas Américas, os jumentos são a chave para a sobrevivência.

A perda de um jumento é particularmente prejudicial para as mulheres. Sem um jumento, as mulheres muitas vezes são forçadas a carregar o peso que seria transportado pelo animal.

Por isso, em fevereiro de 2024, a União Africana concordou com uma moratória sobre o abate de jumentos e a exportação de suas peles pelos próximos 15 anos.

Acabar com o comércio de peles de jumentos enviaria um sinal claro de apoio do Brasil aos esforços da União Africana para proteger os jumentos. Uma proibição no Brasil também seria uma evidência tangível da liderança do país e seu compromisso com a agenda global de bioeconomia.

Risco de biosseguarnça

O movimento de animais tem riscos inerentes, e a disseminação de uma doença para a qual a eutanásia é obrigatória poderia causar danos significativos à lucrativa indústria de cavalos do Brasil, que contribui com aproximadamente R$16 bilhões para a economia a cada ano.

A morte de dezenas de milhares de jumentos em toda a África Ocidental em 2019 demonstrou a devastação que pode ser causada pela propagação de doenças, atribuída em grande parte ao transporte de equídeos em rotas comumente utilizadas para o comércio de pele de jumentos.

No Brasil, os jumentos vendidos para o comércio de pele são capturados e comprados de várias localidades antes de serem misturados e transportados por longas distâncias, muitas vezes cruzando fronteiras estaduais sem documentação. Isso representa um risco inaceitável para a biossegurança no Brasil, além de prejudicar a forte reputação do país como líder no agronegócio.

Comprometimento do agronegócio no Brasil

Os jumentos desempenham um papel crucial no apoio aos pequenos agricultores e comunidades rurais no Brasil, transportando produtos agrícolas e auxiliando no trabalho. O abate descontrolado de jumentos para obtenção de suas peles priva essas comunidades de valiosos animais de trabalho, reduzindo a produtividade agrícola e prejudicando economias rurais que dependem da mão de obra desses animais.

Nesse sentido, diversos líderes do setor de produção agrícola, incluindo a indústria equina, o setor de proteína animal, universidades e conselhos profissionais de medicina veterinária e zootecnia, expressaram apoio ao fim do abate e do comércio de pele de jumentos, entendendo que, na análise de risco-benefício, não há ganho significativo para a economia nacional. Por outro lado, o comércio envolve riscos que podem causar sérios danos ao agronegócio e à saúde pública.

Perda de um patrimônio genético único

Os jumentos brasileiros são reconhecidos como um recurso genético único. Cientistas de todo o mundo mapearam a árvore genealógica dos jumentos e demonstraram de forma inequívoca a importância de preservar o patrimônio genético dessas espécies ao redor do globo.

Estamos cruzando um ponto delicado de não retorno em relação à perda de biodiversidade e devemos tomar medidas urgentes para mitigar o declínio das espécies.

References

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